30.7.11

Severo Sarduy: "Morandi" / "Morandi": tradução de Haroldo de Campos

Morandi

Una lámpara. Un vaso. Una botella.
Sin más utilidad ni pertinencia
que estar ahí, que dar a la consciencia
un soporte casual. Mas no la huella

del hombre que la enciende o que los usa
para beber: todo ha sido blanqueado
o cubierto de cal y nada acusa
abandono, descuido ni cuidado.

Sólo la luz es familiar y escueta
el relieve eficaz; la sombra neta
se alarga en el mantel. El día quedo

sigue el paso del tiempo con su vaga
irrealidad. La tarde ya se apaga.
Los objetos se abrazan: tienen miedo.



Morandi

Uma lâmpada. Um copo. Uma garrafa.
Sem outra utilidade nem premência
que estar aí, que dar à consciência
um suporte casual. Que traço grafa

o gesto que uma acende e os outros usa
para beber? Tudo foi clareado
ou coberto de cal e nada acusa
abandono, descuido nem cuidado.

A luz somente é familiar e reta,
o relevo eficaz; sombra direta
se alonga na toalha. O dia cedo

segue o passo do tempo, lento, a vaga
irrealidade. A tarde já se apaga.
Objetos se abraçam: sentem medo.



SARDUY, Severo. In: CAMPOS, Haroldo. "Três (re)inscrições para Severo Sarduy". In:_____O segundo arco-íris branco. São Paulo: Iluminuras, 2010.

23.7.11

Armando Freitas Filho: "Calder"




Calder


Linha leve ao léu
se lança: dinâmica
aranha de arame
tátil na teia

desenvolve móbile
tateia mecânico
mobilento serial
irradia seu raio

medular, corre
a cor — reticente
filamento, infinito
filiforme pensamento

oscila, delineia
desenrola um perfil
na orla do ar
sublinha assobio, silvo

célere labirinto
falha, o filme
de sua febre frágil:
fio fino fim.


FREITAS FILHO, Armando. "Calder" In: Instauração práxis. São Paulo: Edições Quiron, 1974, p.188.

20.7.11

Décio Pignatari: "Interessere"




Interessere

Na vida interessa o que não é vida
Na morte interessa o que não é morte
Na arte interessa o que não é arte
Na ciência interessa o que não é ciência
Na prosa interessa o que não é prosa
Na poesia interessa o que não é poesia
Na pedra interessa o que não é pedra
No corpo interessa o que não é corpo
Na alma interessa o que não é alma
Na história interessa o que não é história
Na natureza interessa o que não é natureza
No sexo interessa o que não é sexo
(: o amor que, de resto, pode ser abominável)
No homem interessa o que não é homem
Na mulher interessa o que não é mulher
No animal interessa o que não é animal
Na arquitetura interessa o que não é arquitetura
Na flor interessa o que não é flor
Em Joyce interessa o que não é Joyce
No concretismo interessa o que não é concretismo
No paradigma interessa o que não é paradigma
No sintagma interessa o que não é sintagma
Em tudo interessa o que não é tudo
No signo interessa o que não é signo
Em nada interessa o que não é nada.



PIGNATARI, Décio. "Interessere". Disp. no site 7ª Bienal do Mercosul, 2009, no URL http://www.bienalmercosul.art.br/7bienalmercosul/es/decio-pignatari. Acessado em 20/07/2011.

18.7.11

Moacyr Félix: "O poema"




O Poema

Ou se vive por inteiro
ou pela metade a gente
escreve a vida
                          que não viveu.

E o papel em branco então serve
como serve ao prisioneiro
a parede branca do cárcere.

O que não foi é o ser que é
no poema, esse ato mágico
de uma chama que não se vê
tanto mais quanto ela queima
no ar de uma cela vazia
o homem que é posto em pé
sobre os mortos do seu dia



FÉLIX, Moacyr. "O poema" In: FELIX, Moacyr (org.). 41 poetas do Rio. Rio de Janeiro: Funarte,

16.7.11

Fala de Carlos Drummond de Andrade sobre Deus e a morte




Você não pode imaginar como Deus me chateia. Eu não creio nele. Creio realmente numa organização natural que pode tomar o nome de Deus. Esse argumento de que não é possível existir nada sem um poder gerador que seria Deus não resolve, porque então quem criou Deus? Deus gerou o mundo? E quem gerou Deus?

[...]

Não é Deus que é misterioso; é a vida que é misteriosa. Por que nós nascemos? Por que alguém nasceu e gerou outros tantos? Esse mistério não está explicado, e eu me curvo diante dele. Agora, não aceito uma explicação metafísica.

A única coisa de que estou convencido é de que nós morremos de verdade, nós morremos mortos. Nós não revivemos, porque não há nenhum exemplo na natureza disso. Essa história de transformação está bem, mas a essência humana desaparece. Se ela se converte em cinza, em adubo, em qualquer coisa, não é mais a essência humana. Vamos convir que o homem não é assim tão importante.

E aí vem o problema da morte. A aceitação da morte é o máximo que o ser pode conseguir para efeito de se ajustar com a vida, de se entender com a natureza. Se todas as coisas são mortais, o homem não pode pretender à imortalidade. Ela me parece uma grande pretensão de sua parte. Com a ideia da imortalidade, ele se consola da sua mortalidade, mas ele não tem nenhuma prova de que exista essa imortalidade.



Transcrição de trechos de:

ANDRADE, Carlos Drummond de. Maria Julieta entrevista Carlos. Entrevista a Maria Julieta Drummond de andrade. CD. Rio de Janeiro: Luz da Cidade, 2002.

15.7.11

Nicanor Parra: "Cartas a una desconocida" / "Cartas a uma desconhecida": tradução de Albano Martins




Cartas a una desconocida

Cuando pasen los años, cuando pasen
Los años y el aire haya cavado un foso
Entre tu alma y la mía; cuando pasen los años
Y yo sólo sea un hombre que amó,
Un ser que se detuvo un instante frente a tus labios,
Un pobre hombre cansado de andar por los jardines,
¿Dónde estarás tú? ¡Dónde
Estarás, oh hija de mis besos!



Cartas a uma desconhecida

Quando passarem os anos, quando passarem
Os anos e o ar tiver cavado um fosso
Entre a tua alma e a minha; quando passarem os anos
E eu for apenas um homem que amou,
Um ser que se deteve um instante diante dos teus lábios,
Um pobre homem cansado de andar pelos jardins,
Onde estarás tu? Onde
Estarás, ó filha dos meus beijos?



PARRA, Nicanor. "Antipoemas". Tradução de Albano Martins. In: Relâmpago. Revista de Poesia, nº 17, 10/2005.

13.7.11

Antonio Cicero: Mais um "causo" de Zizek




Em artigo no jornal Zero Hora, de Porto Alegre, no dia 9 do corrente, Jorge Barcellos considera “profundamente atual” o pensamento de Slavjo Zizek. Ele observa que, entre outras coisas, Zizek conta “causos” que “sintetizam brilhantemente suas ideias”.

Um exemplo disso, segundo Barcellos, ocorre quando, “para mostrar o cinismo do capitalismo contemporâneo em sua caminhada em direção a um capitalismo autoritário, contrário aos direitos humanos”, Zizek cita, em determinado momento do livro Em defesa das causas perdidas, a ficha de um hotel americano. Ela diz: “Prezado cliente: para garantir que você vai desfrutar sua estadia conosco, o fumo está totalmente proibido neste hotel. Qualquer violação deste regulamento resultará numa multa de US$ 200”. “Assim é o capitalismo, diz Zizek: estamos condenados a ser castigados se recusarmos a desfrutá-lo plenamente”.

Mas examinemos bem esse exemplo. Na verdade, a proibição do fumo em lugares públicos é racionalizada pela tese, supostamente comprovada, de que o fumo passivo prejudica a saúde. Não vou entrar no mérito de tal tese. O fato é que um número muito grande de pessoas – aparentemente a maioria da população – aceita tal tese, nos Estados Unidos. Assim, o que evidentemente a regra do hotel americano quer dizer é que a proibição do cigarro protegerá o hóspede de ser vítima de fumo passivo. Caso ele próprio fume, supõe-se que prejudicará a terceiros; por isso, será punido por uma multa.

Terá tal regra sido imposta pelo “capitalismo”? Mas que capitalista teria interesse nela? Os únicos capitalistas que, enquanto capitalistas, parecem-me ser diretamente afetados por ela são os fabricantes de cigarros: ela sem dúvida os prejudica seriamente.

E terá sentido supor que, se a maioria da população de um país condena determinado tipo de comportamento, tal atitude só é levada em conta se esse país viver sob um regime capitalista?

Não será absurdo supor que justamente os “socialistas” seriam necessariamente indiferentes às atitudes da maioria da população?

Suponhamos que a regra do hotel não dissesse respeito a cigarro, mas a outra coisa; que ela dissesse, por exemplo: “Prezado cliente: para garantir que você vai desfrutar sua estadia conosco, o assassinato está totalmente proibido neste hotel. Qualquer violação deste regulamento resultará em prisão”. Seria isso uma prova do “cinismo do capitalismo contemporâneo em sua caminhada em direção a um capitalismo autoritário, contrário aos direitos humanos”? É evidente que não, pois essa regra só não se encontra explícita na ficha dos hotéis de qualquer país concebível – capitalista ou não – porque já é expressamente prevista pela lei de qualquer país concebível. Sendo assim, é evidente que tampouco pode ser considerada prova nenhuma de cinismo a regra sobre a proibição de cigarros, num país em que a maioria da população condena o fumo.

De fato, esse “causo” sintetiza brilhantemente os procedimentos sofísticos em que Zizek baseia suas teses.

11.7.11

Caetano Veloso: "Woody Allen"




Concordo inteiramente com o elogio que Caetano Veloso, no seguinte artigo, publicado originalmente no domingo, 10 de julho, em sua coluna do "Segundo Caderno" de O Globo, faz ao filme "Meia-noite em Paris", de Woody Allen:


Woody Allen

Uma amiga inteligente me disse que achou “Meia noite em Paris” legal mas muito parecido com “A rosa púrpura do Cairo”. Fiquei me perguntando por quê. Dois dias depois, Xexéo disse a mesma coisa. Mais: que Woody Allen não vem se repetindo, como dizem, mas que no caso deste último filme, ele repete aquele em que uma fã de cinema é engolida pelo filme. Xexéo confessa que é um daqueles admiradores de Allen que, pelos anos 1980, estavam certos de que o cineasta é um gênio excelso. Era uma turma com quem eu gostava de contrastar gritantemente. Fui contar essa história numa entrevista que dei a uma revista de cinema de João Pessoa — uma entrevista que era uma espécie de “autobiografia de um cinéfilo” —, e meu amigo Geneton Moraes a transcreveu em seu blog, o que causou uma pequena onda de revolta. É que Geneton tinha posto uma chamada tipo imprensa sensacionalista (coisa tão diferente dele!), com uma frase minha muito negativa sobre Woody, e isso deu primeira página do Segundo Caderno. Na verdade, eu estava contando como reagi ao cinema de Allen logo que tomei contato com ele. Ressaltando, inclusive, que hoje gosto muito mais dele do que então — e constatando algo que o próprio Xexéo também percebe: mesmo os filmes de Allen de que a gente gosta menos ficam melhores quando revistos na TV.

Mas vi “Meia-noite em Paris” no cinema e adorei como nunca tinha adorado nenhum filme desse diretor — e nem sequer me lembrei de “A rosa púrpura do Cairo”, filme que, quando vi, só me fez pensar duas coisas: 1) que Allen pegou um esboço de roteiro de Maiakóvski e o adoçou; e 2) que Mia Farrow, que até ali era uma menina atraente, sob suas lentes ficou parecendo um cachorro sem dono, fazendo olhos compridos de vítima do destino, sem nenhum resto de sex-appeal.

Por que será que acharam “Paris” parecido com “Cairo”? A proximidade das épocas em que as histórias se dão? A vivência delirante da fantasia? Mistério. O fato é que “Meianoite em Paris” resulta arrebatador. Não é um adjetivo que eu usasse sobre nenhum outro filme de Allen. Aqui vemos o avesso do name-dropping de tantas de suas comédias: os gênios que se reuniam na Paris do final dos anos 1920 aparecem como fantasmas maravilhosos que habitam a mente do diretor, eles vêm à tona — e não se parecem com os autores que os personagens de outros filmes de Allen citam em papos supostamente despretensiosos. Eles não surgem para valorizar as piadas do seu devoto: eles são a piada, assombram o filme como os personagens de Fellini assombram os dele: de modo necessário e inevitável.

Allen nunca escondeu que queria fazer filmes como Fellini. Mas nunca aconteceu de sequer uma cena de filme dele parecer-se com o que amamos em Fellini: a elevação dos personagens a aparições quase sobrenaturais. Quando Alice B. Toklas abre a porta para o jovem roteirista louro ou quando Cole Porter o paquera do piano; quando Dalí dá seu show de egotrip ou quando Buñuel encana com a ideia central de “O anjo exterminador”, eu choro de hilaridade, alegria e comoção. Quando a moça dos anos 1920 expressa sua nostalgia da Belle Époque e logo é transportada, com o protagonista, para lá, uma verdadeira reflexão sobre a dificuldade de aceitar o presente se apresenta de modo fluente e profundo.

Não que coisa semelhante nunca tivesse sido sugerida por outras cenas de filmes de Allen. Mas jamais com essa abertura, essa entrega, essa liberdade que os fantasmas aparecidos lhe deram. E eu, de minha parte, estou mais aberto do que quando me engajava na resistência ao hype. Fiz assim também com Wim Wenders. Em “O cinema falado”, pus na boca de um garoto: “Paris, Texas” é um dramalhão mexicano encenado como gravura hiperrealista americana com verniz alemão” — e a plateia da pré-estreia urrou uma vaia: era composta da turma que venerava Wenders no então indie Estação Botafogo.

Vontade de ser do contra? Não é tão simples assim. Há um aspecto geracional: amamos filmes que vimos na juventude e tememos que seus lugares no pódio sejam tomados. Porém, há coisa mais respeitável. É que detesto mistificações. Talvez eu tenha tido de lutar muito contra mim mesmo para não deixar que minhas eleições se dessem sem uma exigência de autenticidade, sem um “exame de consciência”. Eu queria exigir dos novos cinéfilos esforço igual.

Ruy Castro flagrou a lista dos “melhores cantores de todos os tempos da “NME”, onde não há Sinatra nem Sarah nem Ekstine: ninguém prérock. Um amigo meu, culto e sensível, me disse que as canções de Gershwin não lhe dizem nada: coisas anteriores aos Beatles inexistem. Allen ocupa o extremo oposto: tem a agressão a Dylan, tem a tosca cena dos punks em “Hannah e suas irmãs”. Eu próprio não vivo sem Ella, mas aguento tão mal a reação contra o rock quanto em 1968. Mais: pessoas da minha idade viveram num Brasil de responsabilidades internacionais nulas: não falávamos para o mundo exterior, daí, pichar estrangeiros não implicava riscos. Hoje, adorando o Woody da frase sobre a masturbação (“o único sexo que você pode ter com alguém que você realmente ama”) eu ficaria triste de encontrá-lo pessoalmente com opiniões negativas sobre seu trabalho. E Wim Wenders acaba de filmar Pina Bausch em 3D — e me chamou para a pré-estreia brasileira. Não desejo um “Vicky, Cristina, Rio”, mas Pina em 3D é a glória da invenção do cinematógrafo. Que as salas com o equipamento não se restrinjam a blockbusters.

Curso "Segredos da Criação Poética", na Estação das Letras

8.7.11

Joseph Brodsky: "Почти элегия" / "Quase uma elegia": tradução por Boris Schnaiderman e Nelson Ascher




Quase uma elegia

Também eu aguardei na colunata
da Bolsa, outrora, o fim da chuva fria.
Julgava-a dom de Deus. E era sensata
minha suposição. Pois algum dia
também eu fui feliz. Fui prisioneiro
dos anjos. Combatia monstro horrendo.
Feito Jacó, fitava sorrateiro
uma beldade -rápido- descendo
a escada principal.
                               Aonde tudo
se foi. Sumiu. Olho janela afora:
o "aonde" acima, eu o escrevi, contudo,
sem ponto de interrogação. Agora
é setembro. Um trovão distante invade
meu ouvido. Eis um horto. Pêras pensas,
cheias de seiva nas ramagens densas,
parecem signos de virilidade.
E o ouvido admite, como gente avara
parentes na cozinha, um som assíduo
de chuva que, na mente, sem chegar a
música ainda, é mais do que ruído.



Почти элегия

В былые дни и я пережидал

холодный дождь под колоннадой Биржи.
И полагал, что это - божий дар.
И, может быть, не ошибался. Был же
и я когда-то счастлив. Жил в плену
у ангелов. Ходил на вурдалаков.
Сбегавшую по лестнице одну
красавицу в парадном, как Иаков,
подстерегал.
                       Куда-то навсегда
ушло все это. Спряталось. Однако,
смотрю в окно и, написав "куда",
не ставлю вопросительного знака.
Теперь сентябрь. Передо мною - сад.
Далекий гром закладывает уши.
В густой листве налившиеся груши
как мужеские признаки висят.
И только ливень в дремлющий мой ум,
как в кухню дальних родственников - скаред,
мой слух об эту пору пропускает:
не музыку еще, уже не шум.

 
BRODSKY, Joseph. Quase uma elegia. Traduções de Boris Schnaiderman e Nelson Ascher. Introdução e textos complementares de Nelson Ascher. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1996.

6.7.11

Duda Machado: "Ecce"





ECCE


não sou
o que
nem
o quem
do que
digo

em suma:
poeta
o sumo
mendigo


MACHADO, Duda. Crescente (1977-1990). São Paulo: Duas Cidades; Secretaria de Estado da Cultura, 1990.

3.7.11

Fernando Pinto do Amaral: "Elegia"




Elegia

Regressa neste inverno o tempo exausto
de outros invernos &nbsp &nbsp Rostos submersos
sorriem e emergem devagar
do frio rio dos versos

Olha bem para eles &nbsp &nbsp Reconheces
o que resta de ti
nos seus olhos intactos flutuando
no espelho desse rio &nbsp &nbsp A tua vida
reflui nessas imagens
nos seus reflexos líquidos que movem
as tuas ilusões Respira fundo
absorve a luz do sol
nesta manhã «de inúteis agonias»
e vê que meio século é muito pouco
desde o primeiro dia

Rompe de novo a sombra desses anos
a membrana translúcida do tempo

Talvez ainda saibas mergulhar
no mesmo rio de sempre
e no entanto é cada vez mais fria
a água do passado



AMARAL, Fernando Pinto do. "Elegia". In: Relâmpago. Revista de poesia, nº 27, ano XIV, Lisboa, outubro de 2010.

1.7.11

Angela Melim: "Não sinto"




Não sinto
(muito mais)
falta
nem saudade.

Estou tomando gosto das coisas.

Figuras e linguagem.

Uma laranja
diminutivo
sopinha quente
um sorriso
uma boa chuveirada.

O verão!
Como é colorido.
Super.

O Rio de Janeiro.
Uma viagem.
Contradições. Sinônimos.

Que boa a mão da idade.



MELIM, Angela. "Não sinto". In: FÉLIX, Moacir. 41 poetas do Rio. Rio de Janeiro: Funarte, 1998.