24.8.13

Waly Salomão: "Amante da algazarra"






Amante da algazarra

Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto.
É ela !!!
Todo mundo sabe, sou uma lisa flor de pessoa,
Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de figueira.

Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro
Vixe!!!
Enquanto caminho a pé, pedestre -- peregrino atônito até a morte.
Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou desalento:
Não sou eu quem dá coices ferradurados no ar.
É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto
E se apossou do estojo de minha figura e dela expeliu o estofo.

Quem corre desabrida
Sem ceder a concha do ouvido
A ninguém que dela discorde
É esta
Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde.




SALOMÃO, Waly. O mel do melhor. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.

2 comentários:

ADRIANO NUNES disse...

Cicero,

Waly é brilhante! Salve! Salve! Que falta à Poesia faz!


Abraço forte,
Adriano Nunes

Anônimo disse...

A forma como ele incorpora os poetas que compõem suas referências (no caso deste poema, Manuel Bandeira) é extremamente vigorosa!