6.2.14

Eugénio de Andrade: "Soneto menor à chegada do verão"





Soneto menor à chegada do verão

Eis como o verão
Chega de súbito,
Com seus potros fulvos,
Seus dentes miúdos,

Seus múltiplos, longos
Corredores de cal,
As paredes nuas,
A luz de metal,

Seu dardo mais puro
Cravado na terra,
Cobras que despertam
No silêncio duro –

Eis como o verão
Entra no poema.



ANDRADE, Eugénio de. In: BERARDINELLI, Cleonice (org.). Cinco séculos de sonetos portugueses de Camões a Fernando Pessoa. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2013.

Um comentário:

Nobile José disse...

te vi passando sozinha pela rua


te vi passando sozinha pela rua
como vai a obra por um mundo melhor?
sonhei noutro dia, você tava nua
procurei a receita com caldo Knorr

não deu para atravessar, muitos carros
e depois, deparei o nada a dizer
você estava fumando um cigarro
entendo: sem vícios não se dá pra viver!

sim, tô fazendo sonetos; careta, não?
Cuba colocou meus cabelos a perder
hoje gozo as feministas de plantão

não, não dava mesmo para dizer um oi
palavras, no silêncio, perdem combustão
lembra do dia em que o amor se foi?