30.11.16

Ferreira Gullar: "Registro"




Registro

À janela
             de meu apartamento
à rua Duvivier 49
            (sistema solar, planeta Terra,
             Via Láctea)
             limpo as unhas da mão
por volta das quatro e quarenta da tarde
             do dia 2 de dezembro de 2008
enquanto
              na galáxia M 31
a 2 milhões e 200 mil anos-luz de distância
              extingue-se uma estrela




GULLAR, Ferreira. "Registro". In:_____. "Em alguma parte alguma". In:_____. Toda poesia. Rio de Janeiro: 2015.

26.11.16

Paulo Bomfim: "Soneto I"





Soneto I

Venho de longe, trago o pensamento
Banhado em velhos sais e maresias;
Arrasto velas rotas pelo vento
E mastros carregados de agonias.
Provenho desses mares esquecidos
Nos roteiros de há muito abandonados
E trago na retina diluídos
Os misteriosos portos não tocados.
Retenho dentro da alma, preso à quilha
Todo um mar de sargaços e de vozes,
E ainda procuro no horizonte a ilha
Onde sonham morrer os albatrozes...
Venho de longe a contornar a esmo,
O cabo das tormentas de mim mesmo.



BOMFIM, Paulo. Antologia poética. São Paulo: Martins, 1962.

24.11.16

Carlos Pena Filho: "Olinda"




Olinda

De limpeza e claridade
é a paisagem defronte.
Tão limpa que se dissolve
A linha do horizonte.

As paisagens muito claras
Não são paisagens, são lentes.
São íris, sol, aguaverde
Ou claridade somente.

Olinda é só para os olhos,
Não se apalpa, é só desejo.
Ninguém diz: é lá que eu moro
Diz somente: é lá que eu vejo.

Tão verdágua e não se sabe
A não ser quando se sai.
Não porque antes se visse,
Mas porque não se vê mais.

As claras paisagens dormem
No olhar, quando em existência.
Diluídas, evaporadas,
Só se reúnem na ausência.

Limpeza tal só imagino
Que possa haver nas vivendas
Das aves, nas áreas altas,
Muito além do além das lendas.

Os acidentes, na luz,
Não são, existem por ela.
Não há nem pontos ao menos,
Nem há mar, nem céu, nem velas.

Quando a luz é muito intensa
É quando mais frágil é;
Planície, que de tão plana
Parecesse em pé.



PENA Filho, Carlos. "Olinda". In:_____. Livro Geral. Recife: UFPE, 1969.

21.11.16

Show de Arthur Nogueira, com participação de Antonio Cicero

No Rio de Janeiro, será amanhã, dia 22, na Casa de Cultura Laura Alvim, o show de lançamento do álbum PRESENTE, que meu amigo, o cantor e compositor Arthur Nogueira, fez para homenagear os meus 70 anos. A Casa de Cultura Laura Alvim fica na Av. Vieira Souto, 176, em Ipanema. O show começará às 20h. Arthur cantará canções cujas letras compus para parceiros como Adriana Calcanhotto, João Bosco, José Miguel Wisnik, Lulu Santos, Marina Lima, Orlando Moraes, Roberto Frejat, Waly Salomão e ele mesmo. E eu recitarei alguns poemas meus e de alguns poetas que admiro. Apareçam!

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20.11.16

Manoel de Barros: "Uns homens estão silenciosos"




Se ainda estivesse vivo, o poeta Manoel de Barros teria feito 100 anos ontem. Por isso, Ana Clauda Guimarães, da coluna de Ancelmo Gois em O Globo, ontem pediu a mim e a alguns outros poetas que lhe enviassem alguns versos do autor da "Gramática expositiva do chão". Enviei-lhe o seguinte poema, do qual saiu hoje publicado um trecho: 



Uns homens estão silenciosos

Eu os vejo nas ruas quase que diariamente.
São uns homens devagar, são uns homens quase que misteriosos.
Eles estão esperando.
Às vezes procuram um lugar bem escondido para esperar.
Estão esperando um grande acontecimento.
E estão silenciosos diante do mundo, silenciosos.

Ah, mas como eles entendem as verdades
De seus infinitos segundos.



BARROS, Manoel de. "Uns homens estão silenciosos". In:_____. Poesia completa. Porto: Leya, 2010.

Sophia de Mello Breyner Andresen: "Eu me perdi"




Agradeço ao meu querido amigo, o excelente escritor e artista plástico Pedro Maciel, por me ter chamado atenção para os seguinte poema da maravilhosa Sophia de Mello Breyner Andresen:




Eu me perdi


Eu me perdi na sordidez de um mundo
Onde era preciso ser
Policia agiota fariseu
Ou cocote

Eu me perdi na sordidez do mundo
Eu em salvei na limpidez da terra

Eu me busquei no vento e me encontrei no mar
E nunca
Um navio da costa se afastou
Sem me levar




ANDRESEN, Sophia de Mello Breyner. "Eu me perdi". In:_____. Obra poética. Edição: Carlos Mendes de Sousa. Alfragide: Editorial Caminho, 2011.

18.11.16

Oswald de Andrade: "3 de maio"




3 de maio

Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
Das coisas que eu nunca vi.



ANDRADE, Oswald. "3 de maio". In:_____. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.

15.11.16

Show de Arthur Nogueira, com participação de Antonio Cicero



No Rio de Janeiro, o álbum PRESENTE, que meu amigo, o cantor e compositor Arthur Nogueira, fez para homenagear os meus 70 anos, será lançado na terça-feira da semana que vem, dia 22 de novembro, na Casa de Cultura Laura Alvim, que fica na Av. Vieira Souto, 176. O show começará às 20h. Arthur cantará canções cujas letras compus para parceiros como Adriana Calcanhotto, João Bosco, José Miguel Wisnik, Lulu Santos, Marina Lima, Orlando Moraes, Roberto Frejat, Waly Salomão e ele mesmo. E eu recitarei alguns poemas meus e de alguns poetas que admiro. Apareçam!


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13.11.16

Moraes Moreira: "A letra e a poesia"




A letra e a poesia

Pra que discutir a forma
E até mesmo o conteúdo
Eu gosto de quase tudo
Que brota dos corações
Até um verso banal
Que não é nada erudito
As vezes é mais bonito
E soa bem nas canções

Não dou razão a ninguém
Nessa conversa eu não entro
Bem-vindo o que vem de dentro
E fora da Academia
Partindo desse princípio
Quem me atrai são os loucos
Que celebram como poucos
Música e poesia

Eu quero lê-las em livros
Eu quero ouvi-las em discos
Eu faço lá meus rabiscos
Multiplicando os ofícios
Exercitando a virtude
Na profusão das imagens
Na integração das linguagens
Eu quero todos os vícios

Outrora que nostalgia!
Que onda! Eu era feliz
Ouvindo o som dos vinis
Aquela bolacha preta
Com suas capas na mão
Ainda me lembro quando
Ficava saboreando
Os versos de cada letra

Eu quero todas as mídias
Fazendo como quem sabe
Se alguma coisa me cabe
Que seja assim porque é
No espaço desse universo
A inspiração me projeta
Um vagabundo poeta
Ou um letrista qualquer



MOREIRA, Moraes. "A letra e a poesia". In:_____. Poeta não tem idade. Rio de Janeiro: Numa, 2016.

11.11.16

Friedrich Schiller: "Die Götter Griechenlands" / "Os deuses da Grécia": trad. Machado de Assis


Ontem foi o dia do nascimento do poeta alemão Friedrich Schiller. Somente hoje li o e-mail em que Adriano Nunes me chamava atenção para esse fato. Pois bem, em homenagem ao genial poeta alemão, estou postando aqui, com um dia de atraso, o seu grande poema "Die Götter Griechenlands". A tradução para o português -- boa, embora muito livre -- é de outro gênio: o nosso Machado de Assis: 



Os deuses da Grécia

Quando, co'os tênues vínculos de gozo,
Ó Vênus de Amatonte, governavas
Felizes raças, encantados povos
Dos fabulosos tempos;

Quando fulgia a pompa do teu culto,
E o templo ornavam delicadas rosas,
Ai! quão diverso o mundo apresentava
A face aberta em risos!

Na poesia envolvia-se a verdade;
Plena vida gozava a terra inteira;
E o que jamais hão de sentir na vida
Então sentiam homens.

Lei era repousar no amor; os olhos
Nos namorados olhos se encontravam;
Espalhava-se em toda a natureza
Um vestígio divino.

Onde hoje dizem que se prende um globo
Cheio de fogo, -- outrora conduzia
Hélios o carro de ouro, e os fustigados
Cavalos espumantes.

Povoavam Oreades os montes,
No arvoredo Doriades vivia,
E agreste espuma despejava em flocos
A urna das Danaides.

Refúgio de uma ninfa era o loureiro;
Tantália moça as rochas habitava;
Suspiravam no arbusto e no caniço
Sírinx, Filomela.

Cada ribeiro as lágrimas colhia
De Ceres pela esquiva Perséfone;
E do outeiro chamava inutilmente
Vênus o amado amante.

Entre as raças que o pio tessaliano
Das pedras arrancou, -- os deuses vinham;
Por cativar uns namorados olhos
Apolo pastoreava.

Vínculo brando então o amor lançava
Entre os homens, heróis e os deuses todos;
Eterno culto ao teu poder rendiam,
Ó deusa de Amatonte!

Jejuns austeros, torva gravidade
Banidos eram dos festivos templos;
Que os venturosos deuses só amavam
Os ânimos alegres.

Só a beleza era sagrada outrora;
Quando a pudica Tiemonte mandava,
Nenhum dos gozos que o mortal respira
Envergonhava os deuses.

Eram ricos palácios vossos templos;
Lutas de heróis, festins e o carro e a ode,
Eram da raça humana aos deuses vivos
A jucunda homenagem.

Saltava a dança alegre em torno a altares;
Louros c'roavam numes; e as capelas
De abertas, frescas rosas, lhes cingiam
A fronte perfumada.

Anunciava o galhofeiro Baco
O tirso de Evoé; sátiros fulvos
Iam tripudiando em seu caminho;
Iam bailando as Menades.

A dança revelava o ardor do vinho;
De mão em mão corria a taça ardente,
Pois que ao fervor dos ânimos convida
A face rubra do hóspede.

Nenhum espectro hediondo ia sentar-se
Ao pé do moribundo. O extremo alento
Escapava num ósculo, e voltava
Um gênio a tocha extinta.

E além da vida, nos infernos, era
Um filho de mortal quem sustentava
A severa balança; e co'a voz pia
Vate ameigava as Fúrias.

Nos Elíseos o amigo achava o amigo;
Fiel esposa ia encontrar o esposo;
No perdido caminho o carro entrava
Do destro Automedonte.

Continuava o poeta o antigo canto;
Admeto achava os ósculos de Alceste;
Reconhecia Pilades o sócio
E o rei tessálio as flechas.

Nobre prêmio o valor retribuía
Do que andava nas sendas da virtude;
Ações dignas do céu, filhas dos homens,
O céu tinham por paga.

Inclinavam-se os deuses ante aquele
Que ia buscar-lhe algum mortal extinto;
E os gêmeos lá no Olimpo alumiavam
O caminho ao piloto.

Onde és, mundo de risos e prazeres?
Porque não volves, florescente idade ?
Só as musas conservavam teus divinos
Vestígios fabulosos.

Tristes e mudos vejo os campos todos;
Nenhuma divindade aos olhos surge;
Dessas imagens vivas e formosas
Só a sombra nos resta.

Do norte ao sopro frio e melancólico,
Uma por uma, as flores se esfolharam;
E desse mundo rútilo e divino
Outro colheu despojos.

Os astros interrogo com tristeza,
Seleno, e não te encontro; à selva falo,
Falo à vaga do mar, e à vaga, e à selva,
Inúteis vozes mando.

Da antiga divindade despojada,
Sem conhecer os êxtases que inspira,
Desse esplendor que eterno a fronte lhe orna
Não sabe a natureza.

Nada sente, não goza do meu gozo;
Insensível à força com que impera,
O pêndulo parece condenado
Às frias leis que o regem.

Para se renovar, abre hoje a campa,
Foram-se os numes ao país dos vates;
Das roupas infantis despida, a terra
Inúteis os rejeita.

Foram-se os numes, foram-se; levaram
Consigo o belo, e o grande, e as vivas cores,
Tudo que outrora a vida alimentava,
Tudo que é hoje extinto.

Ao dilúvio dos tempos escapando,
Nos recessos do Pindo se entranharam:
O que sofreu na vida eterna morte,

Imortalize a musa!


SCHILLER, Friedrich. "Os deuses da Grécia". Trad. Machado de Assis. In: ASSIS, Machado de. "Poesias coligidas". In:_____. Obra completa, vol.III. Rio de Janeiro: Aguilar, 1973.



Die Götter Griechenlands

Da ihr noch die schöne Welt regiertet,
An der Freude leichtem Gängelband
Glücklichere Menschalter führtet,
Schöne Wesen aus dem Fabelland!
Ach! da euer Wonnedienst noch glänzte,
Wie ganz anders, anders war es da!
Da man deine Tempel noch bekränzte,
Venus Amathusia!

Da der Dichtkunst malerische Hülle
Sich noch lieblich um die Wahrheit wand! –
Durch die Schöpfung floß da Lebensfülle,
Und, was nie empfinden wird, empfand.
An der Liebe Busen sie zu drücken,
Gab man höhern Adel der Natur.
Alles wies den eingeweihten Blicken,
Alles eines Gottes Spur.

Wo jetzt nur, wie unsre Weisen sagen,
Seelenlos ein Feuerball sich dreht,
Lenkte damals seinen goldnen Wagen
Helios in stiller Majestät.
Diese Höhen füllten Oreaden,
Eine Dryas starb mit jenem Baum,
Aus den Urnen lieblicher Najaden
Sprang der Ströme Silberschaum.

Jener Lorbeer wand sich einst um Hilfe,2
Tantals Tochter3 schweigt in diesem Stein,
Syrinx' Klage tönt' aus jenem Schilfe,
Philomelens Schmerz in diesem Hain.
Jener Bach empfing Demeters Zähre,
Die sie um Persephonen geweint,
Und von diesem Hügel rief Cythere,
Ach, vergebens! ihrem schönen Freund.

Zu Deukalions Geschlechte stiegen
Damals noch die Himmlischen herab,
Pyrrhas schöne Töchter zu besiegen,
Nahm Hyperion den Hirtenstab.
Zwischen Menschen, Göttern und Heroen
Knüpfte Amor einen schönen Bund.
Sterbliche mit Göttern und Heroen
Huldigten in Amathunt.

Betend an der Grazien Altären
Kniete da die holde Priesterin,
Sandte stille Wünsche an Cytheren
Und Gelübde an die Charitin.
Hoher Stolz, auch droben zu gebieten,
Lehrte sie den göttergleichen Rang,
Und des Reizes heilgen Gürtel hüten,
Der den Donnrer selbst bezwang.

Himmlisch und unsterblich war das Feuer,
Das in Pindars stolzen Hymnen floß,
Niederströmte in Arions Leier,
In den Stein des Phidias sich goß.
Beßre Wesen, edlere Gestalten
Kündigten die hohe Abkunft an.
Götter, die vom Himmel niederwallten,
Sahen hier ihn wieder aufgetan.

Werter war von eines Gottes Güte,
Teurer jede Gabe der Natur.
Unter Iris' schönem Bogen blühte
Reizender die perlenvolle Flur.
Prangender erschien die Morgenröte
In Himerens rosigtem Gewand,
Schmelzender erklang die Flöte
In des Hirtengottes Hand.

Liebenswerter malte sich die Jugend,
Blühender in Ganymedas4 Bild,
Heldenkühner, göttlicher die Tugend
Mit Tritoniens Medusenschild.
Sanfter war, da Hymen es noch knüpfte,
Heiliger der Herzen ewges Band.
Selbst des Lebens zarter Faden schlüpfte
Weicher durch der Parzen Hand.

Das Evoë muntrer Thyrsusschwinger
Und der Panther prächtiges Gespann
Meldeten den großen Freudebringer.
Faun und Satyr taumeln ihm voran,
Um ihn springen rasende Mänaden,
Ihre Tänze loben seinen Wein,
Und die Wangen des Bewirters laden
Lustig zu dem Becher ein.

Höher war der Gabe Wert gestiegen,
Die der Geber freundlich mit genoß,
Näher war der Schöpfer dem Vergnügen,
Das im Busen des Geschöpfes floß.
Nennt der meinige sich dem Verstande?
Birgt ihn etwa der Gewölke Zelt?
Mühsam späh ich im Ideenlande,
Fruchtlos in der Sinnenwelt.

Eure Tempel lachten gleich Palästen,
Euch verherrlichte das Heldenspiel
An des Isthmus kronenreichen Festen,
Und die Wagen donnerten zum Ziel.
Schön geschlungne seelenvolle Tänze
Kreisten um den prangenden Altar,
Eure Schläfe schmückten Siegeskränze,
Kronen euer duftend Haar.

Seiner Güter schenkte man das beste,
Seiner Lämmer liebstes gab der Hirt,
Und der Freudetaumel seiner Gäste
Lohnte dem erhabnen Wirt.
Wohin tret ich? Diese traurge Stille
Kündigt sie mir meinen Schöpfer an?
Finster, wie er selbst, ist seine Hülle,
Mein Entsagen – was ihn feiern kann.

Damals trat kein gräßliches Gerippe
Vor das Bett des Sterbenden. Ein Kuß
Nahm das letzte Leben von der Lippe,
Still und traurig senkt' ein Genius
Seine Fackel. Schöne, lichte Bilder
Scherzten auch um die Notwendigkeit,
Und das ernste Schicksal blickte milder
Durch den Schleier sanfter Menschlichkeit.

Nach der Geister schrecklichen Gesetzen
Richtete kein heiliger Barbar,
Dessen Augen Tränen nie benetzen,
Zarte Wesen, die ein Weib gebar.
Selbst des Orkus strenge Richterwaage
Hielt der Enkel einer Sterblichen,
Und des Thrakers seelenvolle Klage
Rührte die Erinnyen.

Seine Freuden traf der frohe Schatten
In Elysiens Hainen wieder an;
Treue Liebe fand den treuen Gatten
Und der Wagenlenker seine Bahn;
Orpheus' Spiel tönt die gewohnten Lieder,
In Alcestens Arme sinkt Admet,
Seinen Freund erkennt Orestes wieder,
Seine Waffen Philoktet.

Aber ohne Wiederkehr verloren
Bleibt, was ich auf dieser Welt verließ,
Jede Wonne hab ich abgeschworen,
Alle Bande, die ich selig pries.
Fremde, nie verstandene Entzücken
Schaudern mich aus jenen Welten an,
Und für Freuden, die mich jetzt beglücken,
Tausch ich neue, die ich missen kann.

Höhre Preise stärkten da den Ringer
Auf der Tugend arbeitvoller Bahn:
Großer Taten herrliche Vollbringer
Klimmten zu den Seligen hinan;
Vor dem Wiederforderer der Toten5
Neigte sich der Götter stille Schar.
Durch die Fluten leuchtet dem Piloten
Vom Olymp das Zwillingspaar.

Schöne Welt, wo bist du? – Kehre wieder,
Holdes Blütenalter der Natur!
Ach! nur in dem Feenland der Lieder
Lebt noch deine goldne Spur.
Ausgestorben trauert das Gefilde,
Keine Gottheit zeigt sich meinem Blick,
Ach! von jenem lebenwarmen Bilde
Blieb nur das Gerippe mir zurück.

Alle jenen Blüten sind gefallen
Von des Nordes winterlichem Wehn.
Einen zu bereichern, unter allen,
Mußte diese Götterwelt vergehn.
Traurig such ich an dem Sternenbogen,
Dich, Selene, find ich dort nicht mehr;
Durch die Wälder ruf ich, durch die Wogen,
Ach! sie widerhallen leer!

Unbewußt der Freuden, die sie schenket,
Nie entzückt von ihrer Trefflichkeit,
Nie gewahr des Armes, der sie lenket,
Reicher nie durch meine Dankbarkeit,
Fühllos selbst für ihres Künstlers Ehre,
Gleich dem toten Schlag der Pendeluhr,
Dient sie knechtisch dem Gesetz der Schwere,
Die entgötterte Natur!
Morgen wieder neu sich zu entbinden,
Wühlt sie heute sich ihr eignes Grab,
Und an ewig gleicher Spindel winden
Sich von selbst die Monde auf und ab.
Müßig kehrten zu dem Dichterlande
Heim die Götter, unnütz einer Welt,
Die, entwachsen ihrem Gängelbande,
Sich durch eignes Schweben hält.

Freundlos, ohne Bruder, ohne Gleichen,
Keiner Göttin, keiner Irdschen Sohn,
Herrscht ein andrer in des Äthers Reichen
Auf Saturnus' umgestürztem Thron.
Selig, eh sich Wesen um ihn freuten,
Selig im entvölkerten Gefild,
Sieht er in dem langen Strom der Zeiten
Ewig nur – sein eignes Bild.

Bürger des Olymps konnt ich erreichen,
Jenem Gotte, den sein Marmor preist,
Konnte einst der hohe Bildner gleichen;
Was ist neben dir der höchste Geist
Derer, welche Sterbliche gebaren?
Nur der Würmer Erster, Edelster.
Da die Götter menschlicher noch waren,
Waren Menschen göttlicher.

Dessen Strahlen mich darnieder schlagen,
Werk und Schöpfer des Verstandes! dir
Nachzuringen, gib mir Flügel, Waagen,
Dich zu wägen – oder nimm von mir,
Nimm die ernste, strenge Göttin wieder,
Die den Spiegel blendend vor mir hält;
Ihre sanftre Schwester sende nieder,
Spare jene für die andre Welt.




SCHILLER, Friedrich. "Die Götter Griechenlands". In:_____. Werke. Berlin: Digitbib, 2003. 

9.11.16

Gastão Cruz: "Num café alta noite ao longe"



6

Num café alta noite ao longe
te revi a uma
mesa difusamente iluminada
sob a onda do escuro que era a noite
em outubro
saímos e segui-te até falarmos
dobrada a esquina duma praça
transformada
talvez já na curva da estrada



CRUZ, Gastão. "Num café alta noite ao longe". In:_____. Fogo. Porto: Assírio & Alvim, 2013.

7.11.16

Leitura, por Antonio Cicero, letra da canção "Encontros e despedidas", de Fernando Brant

Por sugestão de Ronaldo Bastos, fiz uma leitura da canção "Encontros e Despedidas", de Milton Nascimento e Fernando Brant: homenagem aos 70 anos do compositor Fernando Brant, um dos criadores do Clube da Esquina e um dos maiores poetas da MPB. Ei-la:






5.11.16

Arthur Nogueira lança disco em show de que eu, Antonio Cicero, participo

O álbum PRESENTE, que meu amigo, o cantor e compositor Arthur Nogueira, fez para homenagear os meus 70 anos, será lançado no domingo, dia 06 de novembro, no teatro do SESC Pompeia. Arthur cantará canções cujas letras compus para parceiros como Adriana Calcanhotto, João Bosco, José Miguel Wisnik, Lulu Santos, Marina Lima, Orlando Moraes, Roberto Frejat, Waly Salomão e ele mesmo. E eu recitarei alguns poemas meus e de alguns poetas que admiro. Apareçam! Prometo que estaremos de frente para a plateia.

O link para a compra de ingressos é: https://goo.gl/kos4OY.  


Clique no poster concebido por Gabriel Martins, para
ampliá-lo:

3.11.16

Odysséas Elýtis: "Του Αιγαίου" / "Do Egeu": trad. Adriano Nunes



Do Egeu 


O amor
O arquipélago
E o arco de suas espumas
E as gaivotas de seus sonhos
No mastro mais alto o marinheiro acena
Uma canção

O amor
Sua canção
E os horizontes de sua viagem
E o eco de nostalgia
Em sua mais úmida rocha a espera prometida
Um barco

O amor
Seu barco
E o desprezo por seus mistrais
E o braço de sua esperança
Em seu mais rápido ondear uma ilha embala
A chegada



Του Αιγαίου

Ο έρωτας
Το αρχιπέλαγος
Κι η πρώρα των αφρών του
Κι οι γλάροι των ονείρων του
Στο πιο ψηλό κατάρτι του ο ναύτης ανεμίζει
Ένα τραγούδι

Ο έρωτας
Το τραγούδι του
Κι οι ορίζοντες του ταξιδιού του
Κι ηχώ της νοσταλγίας του
Στον πιο βρεμένο βράκο της ή αρραβωνιαστικιά προσμένει
Ένα καράβι

Ο έρωτας
Το καράβι του
Κι η αμεριμνησία των μελτεμιών του
Κι ο φλόκος της ελπίδας του
Στον πιο ελαφρό κυματισμό του ένα νησί λικνίζει
Τον ερχομό.


ELÝTES, Odysséas. "Tou Αιγαίου". In:_____. Poíese. Atenas: Ícaro, 2002. 

Todos os direitos reservados da tradução diretamente do grego pertencem ao poeta Adriano Nunes.



*Todos os direitos reservados da tradução diretamente do grego pertencem ao poeta Adriano Nunes.






1.11.16

Jacques Prévert: "Le météore" / "O meteoro": trad. de Silviano Santiago




Le météore

Entre les barreaux des locaux disciplinaires
une orange
passe comme un éclair
et tombe dans la tinette
comme une pierre
Et le prisonnier
tout éclaboussé de merde
resplendit
tout illuminé de joie
Elle ne m'a pas oublié
Elle pense toujours à moi.



O meteoro

Por entre as grades do edifício penitenciário
uma laranja
passa como um raio
e vai cair no vaso
como uma pedra
E o prisioneiro
todo sujo de merda
resplandece
todo iluminado de alegria
Ela não me esqueceu
Continua pensando em mim.



PRÉVERT, Jacques. "Le météore" / "O meteoro". In:_____. Poemas. Seleção e tradução de Silviano Santiago. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.